“Eu tô feliz. É uma pessoa que eu não conheço. Eu não sei como vai ser o convívio daqui para frente, mas as minhas buscas acabaram. Não preciso mais me preocupar com nada, de querer saber de mais nada. O ponto de interrogação nem existe mais”, afirma a técnica de enfermagem Jéssica de Almeida Queiroz Daniel, 32 anos. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) identificou, nesta terça-feira (4/2), a mãe biológica da mulher após mais de três décadas de mistério.
O caso foi revelado pela coluna Na Mira, do Metrópoles. Apesar da confirmação da identidade da mãe, a 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro) segue investigando os detalhes da adoção à brasileira – quando uma criança é entregue diretamente a outra família sem os necessários trâmites legais.
“Sempre foi essa busca incessante. Então, hoje para mim, acabou. Eu estava no trabalho, até conversei com uma colega, falei o que eu ia fazer da minha vida agora? É sério, porque passei esse tempo todo só nisso, focada só nisso. Agora acabou. Não preciso mais saber de nada. Já descobriram”, conta a mulher.
Após a publicação da reportagem do Metrópoles, em 30 de dezembro do ano passado, uma pessoa entrou em contato com Jéssica e indicou plataformas onde, com base em resultados de material genético, é possível identificar similaridades genéticas com outras pessoas. Com isso, a técnica de enfermagem conseguiu encontrar uma prima de 1º grau, nos Estados Unidos.
Ela acionou a parente e, após dias de conversa, foram apontados dados da pessoa que poderia ser a mãe dela. Os exames de DNA confirmaram que a mulher é mesmo a mãe biológica de Jéssica, que vive atualmente na Cidade Ocidental, no Entorno do DF.
Jéssica já mandou mensagens e falou por telefone com a mãe biológica, mas ainda não a encontrou pessoalmente: “Quando eu conversei com ela, a gente conseguiu o telefone dela. Eu entrei em contato e quando ela começou a conversar comigo, ela já foi para longe. Ela não sabia de nada. Não sabia da reportagem. Nem que eu era a pessoa que estava atrás dela. Que eu poderia ser a filha dela”.
Investigação
A técnica de enfermagem descobriu a adoção quando tinha 15 anos. Enquanto trabalhava no bar da família adotiva, no Gama, um cliente questionou se ela sabia quem eram seus pais biológicos.
A partir desse questionamento, ela passou a pressionar a família para obter informações sobre as origens. Depois, descobriu que, ainda recém-nascida, foi entregue por uma mulher à mãe afetiva, dentro de um apartamento na Asa Sul.
Vinícius Schmidt/Metrópoles
Vinícius Schmidt/Metrópoles
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Um processo sobre o caso tramita na 1ª Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal e, na noite dessa segunda-feira (3/2), exames de DNA efetuados pela equipe do Instituto de Pesquisa de DNA Forense (IPDNA) da PCDF apresentaram o laudo sobre a maternidade da profissional da saúde.
“A 3ª DP seguiu todos os caminhos apontados pela Jéssica. Identificamos as mães afetiva e biológica, que fizeram exames de DNA no Departamento de Polícia Técnica da PCDF, mas não encerramos as investigações, pois a técnica de enfermagem tem dois irmãos que, provavelmente, foram adotados da mesma forma”, ressaltou o delegado-chefe da unidade policial, Victor Dan.
A investigação da PCDF, agora, busca entender as circunstâncias nas quais ocorreram a doação não apenas da técnica de enfermagem, como também de outras duas crianças, que podem ser irmãs da mãe de Jéssica.
“Nós já ouvimos tanto a mãe afetiva quanto a mãe biológica. Elas confessarem, mas nós precisamos saber quais foram as circunstâncias em que Jéssica foi adotada de forma ilegal e seus dois irmãos. Ambas confessaram, contaram suas histórias, mas ainda há muita situação a ser esclarecida”, afirma Victor Dan.
Em relação a uma possível prisão contra os envolvidos, o delegado esclarece: “O entendimento dessa delegacia é que não houve a prescrição. Nós entendemos que essa prescrição só começa a ocorrer a partir do momento que uma autoridade pública tem o conhecimento da falsidade”.
“É um crime popularmente conhecido como adoção brasileira, onde a pena varia de 2 a 6 anos, porém, se a adoção ocorreu por motivo nobre, que a gente ainda vai investigar, vai analisar, é possível a isenção da pena na fase judicial”, finaliza.