São Paulo – “Saiba que eu sou juiz de Bragança Paulista, aqui, aqui do seu lado, eu prendo você. Você não me prende”, afirmou o empresário Murilo Miyazaki, do interior de São Paulo, a um funcionário que lhe conduzia para fora do Rio Open, torneio de tênis realizado no Jockey, no bairro da Gávea, em fevereiro.
Veja as imagens:
Miyazaki não é juiz e foi acusado pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) de racismo por supostamente ter chamado de “macaco” um segurança do evento. Um vídeo obtido pelo Metrópoles mostra o empresário armando um barraco ao ser expulso do evento, dizendo que “sairia no tapa” com quem lhe conduzia, xingando uma mulher e dando a “carteirada” de juiz.
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Em depoimento, o segurança afirmou que, durante a partida, foi chamado para conter Murilo, que estava na arquibancada atrapalhando o andamento do jogo. Quando pediu para que o empresário ficasse quieto, o segurança disse ter ouvido: “Não estou fazendo nada, não fiz nada, cara idiota, um merda, vai se foder, eu paguei…”.
Em seguida, disse que, “entre os dentes”, como se fosse para ninguém escutar, Murilo emendou: “Macaco!”. Outras duas funcionárias disseram ter sido xingadas por Miyazaki enquanto ele era retirado do evento.
“Comunista, sapatão”
Em um vídeo que mostra seguranças conduzindo Miyazaki para fora, ele peita um dos agentes e diz: “Quer vir aqui? Vamos vir que nós vamos sair no tapa agora. Vai se foder, bando de bosta!”. Cercado de seguranças, em tom irônico, ele diz: “Então, vamos lá, o que aconteceu? A moça ficou… viu, a comunista, sapatão, ficou brava com o que?”.
Uma pessoa se aproximou do empresário durante a caminhada para fora do Jockey e disse que, se continuasse, daria voz de prisão. Ele, então, disse ser juiz e afirmou que quem sairia preso seria o agente.
“Você não acha que está sendo um bobão para fazer isso aí? Por causa de uma mulher idiota que está falando besteira. É isso aí, por isso que sua mulher reclama da sua vida, falando merda, por um monte de merda, por um monte de merda”, disse, em seguida.
Quando conduzido até uma tenda, que, segundo os funcionários, era a ouvidoria do evento, ele negou ter xingado o segurança e a funcionária. “Eu não mandei nada, ela me mandou tomar no cu e eu só revidei. Nunca, eu nunca chamei ninguém de macaco”. Alegou, ainda, que estava embriagado.
Prisão em flagrante
Miyazaki foi preso em flagrante. Depois, solto.
Em depoimento, na delegacia, negou, novamente, ter xingado o segurança, disse que apenas criticou a organização do evento.
Levou como sua testemunha o promotor de Justiça de Bragança Paulista Rogerio Jose Filocomo Junior, que disse não ter ouvido xingamentos racistas nem homofóbicos do amigo e que ele proferiu apenas “xingamentos sem nexo”, como “comunista”.
O promotor ainda disse que “permaneceu todo o momento, desde a chegada até a saída, e, em nenhum momento, ouviu palavras de cunho racista ou gordofóbico”. Ele disse ser amigo de clube de golfe do empresário e que eles fizeram uma excursão ao Rio para assistir ao evento.
Em denúncia oferecida à Justiça, o Ministério Público do Rio afirmou que o empresário, de “forma livre e consciente, injuriou” o segurança, “ofendendo sua dignidade através da menção à sua raça de forma pejorativa”.
Defesa alega mal-entendido
O advogado Marco Aurélio Asseff, que defende Murilo Miyazaki, afirmou que “cabe esclarecer” que o empresário “não proferiu palavras racistas”.
“O mal-entendido ocorreu durante a partida devido à exigência de silêncio. A defesa técnica de Murilo confia em uma solução amigável e negociada para a conclusão do processo”, disse.