São Paulo — A Operação Heisenberg, da Polícia Civil paulista, deflagrada para combater uma rede de tráfico de metanfetamina e cujo nome foi inspirado na série Breaking Bad, tem entre os seus alvos de mandados de prisão um traficante mexicano cujo apelido também tem como origem um personagem no fenômeno da TV.
Breaking Bad conta a história do professor de química Walter White, que, após o diagnóstico de câncer no pulmão, se associa a um ex-aluno e passa a fabricar metanfetamina no Novo México. Ao longo da trama, ele se torna um temido traficante, com o codinome de Heisenberg, que inspirou o nome da operação policial em São Paulo.
Um dos personagens que cruzam com o caminho de Walter é Hector Salamanca, um chefão do cartel mexicano do tráfico de drogas. No mundo real, é pelo codinome Hector Salamanca que atende Hector de La O Alvarez, mexicano investigado na Operação Heisenberg.
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Hector escapou dos investigadores em um lance de sorte. No dia 1º de julho de 2024, ele deixou um apartamento no centro de São Paulo onde funcionava um laboratório de metanfetamina minutos antes de policiais entrarem no local. Lá, foram apreendidos 2 kg da droga e presos chineses tidos pela polícia como importantes traficantes da metanfetamina.
A existência do QG da droga havia sido denunciada aos policiais por um chinês que veio ao Brasil em razão de uma proposta de emprego para o grupo e acabou descobrindo que, na verdade, seu “trabalho” seria na operação de um delivery de drogas.
Após terem acesso aos registros do prédio onde ficava o laboratório de metanfetamina, policiais levantaram quem frequentava o apartamento e encontraram nome e imagens de Hector no elevador (foto em destaque).
No livro do condomínio, investigadores encontraram pelo menos 20 visitas de Hector ao QG da metanfetamina. Fontes da Polícia Civil disseram que Hector se encontrava com um dos traficantes chineses presos em flagrante naquele dia.
Sua descrição bate com informações colhidas em campo por policiais, que receberam relatos de que um dos mexicanos que vendiam a droga em São Paulo atendia pelo apelido de “Salamanca”, teria pele morena, cabelos grisalhos e cerca de 50 anos de idade.
Foi essa apreensão de drogas em julho que levou a Polícia Civil a descobrir uma rede de traficantes chineses, mexicanos, nigerianos e portugueses que dominam o mercado da metanfetamina em São Paulo.
Mensagens encontradas em celulares de presos nesse flagrante levaram a quebras de sigilo e até mesmo a campanas que monitoraram encontros entre os investigados.
Indícios como diálogos sobre negociações de drogas e armas e transferências de dinheiro entre investigados embasaram pedidos da Polícia Civil por 60 prisões e 101 buscas e apreensões na Operação Heisenberg, que viria a ser deflagrada em dezembro de 2024.
Um dos alvos era Hector Salamanca. Ele não foi encontrado e segue foragido.
A metanfetamina é um entorpecente que tem se popularizado como um produto do chamado chemsex, termo que, em português, é conhecido como “sexo químico” — ato sexual impulsionado pelo uso de drogas. Por isso, os principais destinatários dos traficantes são usuários que passam o dia em hotéis ou motéis com prostitutas ou parceiras, intercalando sexo e drogas.