Um áudio obtido pela Polícia Federal (PF) ao longo da investigação que mira uma organização criminosa de tráfico internacional de cocaína mostra a extensão do poder de máfia italiana ‘Ndrangheta no Brasil.
Em um conversa entre Nicola Assisi, apontado como líder da máfia calabresa no país, um integrante do Primeiro Comando da Capital e um fornecedor de logística para a exportação de droga no porto de Paranaguá (PR), eles falam da área de atuação do grupo.
“A gente trabalha no Brasil todo”, disse um integrante do PCC ao lado de Assisi para o interlocutor de Paranaguá. O áudio foi encontrado em um pen-drive no dia na prisão de Assisi e de seu filho Patrick, em 2019, em uma casa em Praia Grande (SP).
A gravação, diz a Polícia Federal, é de uma conversa entre Marlon da Conceição Santos, integrante do Primeiro Comando da Capital conhecido como “Negão”, Jeferson Barcellos de Oliveira, líder do grupo que colocava drogas em contêineres no porto de Paranaguá (PR), e Nicola Assisi.
Os três se encontraram para discutir alguns serviços realizados por Barcellos no porto de Paranaguá, e tratar sobre valores que não haviam sido recebidos por ele. Também foi abordada a capilaridade da atuação da máfia na exportação de grandes quantidades de droga por diversos portos brasileiros.
A conversa é de 2019. No ano seguinte, Barcellos foi assassinado após cargas de drogas serem apreendidas. A suspeita é que o crime tenha sido a mando de traficantes. O mesmo esquema de Barcellos utilizado por Nicola Assisi para envio de droga ao exterior também era usado por Willian Agati, o concierge do crime ligado à cúpula do PCC.
“A gente trabalha no Brasil todo, para você ter noção, trabalha na Bahia, trabalha em Belém do Pará, trabalha no Rio de janeiro, trabalha aqui, no Brasil todo”, afirmou Marlon Santos.
Tanto Marlon Santos quanto Assisi também elogiaram o trabalho de Barcellos no porto da cidade paranaense, dizendo que seu serviço seria “nota 10”. Barcellos, então, passa a falar sobre a parte logística da exportação dos carregamentos e cita a cooptação de um funcionário do Terminal Portuário.
“Para você ter uma ideia, o próprio cara do terminal, que trabalha no terminal para mim, ele vê em tempo real, ele tem…. ele fica olhando… Para você ter uma ideia, você pode puxar, cai o contêiner do lado, mas o nosso não cai”, afirma sobre a vantagem que teria sobre as inspeções realizadas nas cargas dos contêineres.
O áudio, que tem duração de quase 1 hora e meia, foi usado pelo Ministério Público Federal (MPF) para denunciar Willian Agati, conhecido como o “concierge do crime”.
Denunciado pelo MPF, Willian Agati é apontado como o elo entre a cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital) a compradores de drogas no exterior, entre eles a ‘Ndrangheta.
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Agati recebeu o apelido de “concierge do crime” porque atuava no fornecimento de diversos serviços para o PCC. Entre eles, a intermediação com compradores de cocaína no exterior, como a máfia calabresa da qual Assisi faz parte.
Antes de ser pego no Brasil, Nicola Assisi já era procurado pelas autoridades italianas por sua atuação no tráfico internacional, lavagem de ativos e por integrar a ‘Ndrangheta. Ele era conhecido como “Fantasma da Calábria” e era tido como um dos maiores traficantes do mundo.
“A ‘Ndrangheta é a maior máfia italiana atualmente tanto em volume de transações ilícitas, quanto no controle de remessas de cocaína e lavagem de ativos nos 5 continentes do mundo”, afirma a denúncia.
Depois de ser condenado pela justiça italiana, Assisi veio para o Brasil e passou chefiar o braço da ‘Ndrangheta no Brasil.
Os dois utilizavam cinco apartamentos em um edifício residencial em Praia Grande e, segundo as investigações, eram bastante fortificados, onde foram encontradas armas, munições e diversos celulares, rádios, rastreadores, lacres para contêineres e cerca de R$ 770 mil em espécie.