O discurso do ódio é uma marca dos extremistas da direita, aqui e em toda parte (alô, alô, Bolsonaro et caterva). Os da esquerda, por vergonha ou falta de prática, evitam utilizá-lo. De resto, o discurso do ódio parece coisa da era digital, embora não seja (alô, alô, Hitler, Mussolini etc caterva), e os esquerdistas são analógicos.
De vez em quando, porém, uma voz da esquerda ensaia um passo na mesma direção. Foi o que aconteceu na última sexta-feira (2) com o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, do PT. Reunido em América Dourada, a 427 quilômetros de Salvador, com deputados federais e prefeitos da região, ele disse:
“Tivemos um presidente que sorria daqueles que estavam na pandemia sentindo falta de ar. Ele vai pagar essa conta e quem votou nele podia pagar também. Fazia no pacote. Bota uma ‘enchedeira’. Sabe o que é uma ‘enchedeira’? Uma retroescavadeira. Bota e leva tudo para vala”.
Até “fazia no pacote”, a declaração não tinha nada demais. A partir daí, o ódio entrou em cena. Encher uma retroescavadeira com eleitores de Bolsonaro e “levar tudo para vala” significa: enterrá-los, vivos ou mortos. Não algo que se deseje para ninguém. Jerônimo levantou a bola para Bolsonaro chutar:
“Esse tipo de discurso, vindo de uma autoridade de Estado, não apenas normaliza o ódio como incentiva o pior: a violência política, o assassinato moral e até físico de quem pensa diferente. É a institucionalização da barbárie com o verniz de ‘liberdade de expressão progressista’”.
Líderes do PL e deputados criticaram Jerônimo. “Essa fala imprudente e leviana é um anti exemplo do que a vida pública, em sua face virtuosa e decente, nos traz como caminho”, observou João Roma, ex-ministro de Bolsonaro. O deputado Diego Castro (PL) apresentou uma denúncia formal ao STF contra o governador.
A repercussão negativa do episódio foi tamanha que obrigou Jerônimo a dar o dito pelo não dito. Valeu-se para isso do velho recurso de afirmar que suas palavras foram retiradas de contexto:
“Quem me conhece sabe, eu sou uma pessoa religiosa, sou uma pessoa de família, não vou nunca tratar qualquer opositor com um tratamento deste. [A fala] foi descontextualizada. Eu apresentei anteriormente a minha indignação como o país estava sendo tratado”.
Como nem ele convenceu-se do que acabara de dizer, então pediu desculpas:
“Se o termo vala e o termo trator foi pejorativo ou foi muito forte, eu peço desculpa. Não foi a minha intenção, eu não tenho problema algum de poder registrar quando há excessos na palavra, movido pela indignação”.
Se foi pejorativo? Se foi muito forte? Se excedeu-se?
Meça as palavras antes de falar.
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