FALA SÉRIO DF

De Tarcísio a relógios de luxo: a conversa secreta de policiais presos

São Paulo — Conversas interceptadas pela Polícia Federal (PF) mostram parte dos bastidores de corrupção de policiais civis de São Paulo, presos por envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e que, também, mantinham contato com o corretor de imóveis Vinícius Gritzbach.

O Metrópoles obteve a transcrição de dias de diálogos trocados entre os policiais civis Valdenir Paulo de Almeida, o Xixo, e Eduardo Lopes Monteiro, nas quais falam desde como a vitória de Tarcísio de Freitas (Republicanos) poderia os beneficiar indiretamente — com a escolha de um novo delegado geral — como também conversam sobre o recebimento de relógios de luxo, extorquidos de Gritzbach.

O corretor de imóveis foi executado com tiros de fuzil, em 8 de novembro, no Aeroporto Internacional de São Paulo, na região metropolitana. Ele havia, dias antes, feito uma delação premiada ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) na qual indicou nomes e entregou provas da relação estreita de policiais com a maior facção do Brasil.

4 imagens
1 de 4

Reprodução/PF

2 de 4

Reprodução/PF

3 de 4

Reprodução/PF

4 de 4

Reprodução/MPSP

Xixo foi preso junto com o também policial civil Valmir Pinheiro, o Bolsonaro, em setembro. Já Eduardo Monteiro, que é chefe de investigações, foi preso no último dia 17, junto com outros três policiais — entre eles o delegado Fábio Baena, com quem trabalhava no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Todos estão envolvidos com lavagem de dinheiro e com o crime organizado, segundo denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Gritzbach, o “amigo”

Em uma das conversas interceptadas, de 20 setembro de 2022, Eduardo Monteiro marca de se encontrar com Xixo. O horário é marcado para às 15h, porque às 16h Xixo estaria com o “amigo”, que a PF identificou ser Gritzbach.

Já na casa do corretor de imóveis, Xixo fala que “o alvo [Gritzbach] tá mandando um abraço” para Eduardo Monteiro que “manda outro”, junto com as imagens de dois relógios das marcas de luxo Rolex e de um Hublot. Durante dias, Monteiro cobra a data em que Xixo irá retornar à casa do corretor, para pegar um dos relógios.

Em 27 de setembro de 2022, Xixo garante que Gritzbach está ciente da demanda e que, no dia seguinte, iria se encontrar com ele. Porém, uma operação policial, na qual Xixo atuou, e um resfriado de Gritzbach atrasaram a reunião.

Nesse meio tempo, os policiais conversaram sobre as eleições para o governo estadual, vencidas por Tarcísio de Freitas.

Delação de Gritzbach sobre PCC envolve cúpula da Polícia Civil, diz PF

“Para nós, é melhor o Tarcísio”

Eduardo afirma que “Tarcísio vai ganhar”, questionando quem ele iria nomear para chefiar a Delegacia Geral. “Podia colar um amigo, né? Como DG [delegado geral]”.

“É, o Tarcísio acho que vai ganhar. Para nós, é melhor o Tarcísio”, responde Xixo.

Eduardo Monteiro então argumenta que, em uma eventual vitória do PT, os policiais “estariam mortos”. “Vamos pagar igual cachorro grande”.

Ele reforça o desejo de Xixo para que o novo Delegado Geral seja amigo deles. “O delegado geral pode ser um delegado amigo, né? Amigo nosso, né? Chega de ser amigo dos outros, tem que ser amigo nosso, colado em nós”.

“Cadê” os relógios?

As conversas se arrastam por dias e Eduardo Monteiro sempre cobra Xixo algum posicionamento sobre os relógios de luxo.

No mês seguinte ao início da conversa interceptada, segundo a PF, “fica claro” que Eduardo Monteiro usava Xixo “para conseguir os tais relógios”.

No período da noite, o investigador chefe envia novamente as fotos dos três relógios de luxo, junto com a cobrança: “cadê”?

“E aí, maloca, dá atenção na empresa [missão], mano. Dá atenção na empresa, viado. Dá atenção na empresa! Já falei, se tiver com dó [do Gritzbach], deixa quieto o bagulho”.

Xixo então tranquiliza o chefe de investigações: “[o corretor] falou que vai te dar, para você escolher um dos três. Pode escolher”.

Eduardo Monteiro, assim como o delegado Fábio Baena e Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho –que ficou foragido por seis dias e foi preso, após se entregar à polícia nessa segunda-feira (23/12) — roubaram outros relógios de luxo de Gritzbach, quando cumpriram um mandado de busca e apreensão, em um dos imóveis do corretor.

Todos são alvo da PF e do Gaeco em uma investigação na qual são apontados como integrantes de uma quadrilha que estaria envolvida com crimes de homicídio, lavagem de dinheiro, crimes contra a administração pública e “outros delitos de extrema gravidade”.

LEIA TAMBÉM

Generated by Feedzy