A pequena Clara tinha apenas 03 meses de vida quando resistiu bravamente a um transplante de coração, em uma cirurgia que durou quase 5 horas. Hoje, com 7 meses, a bebê vive bem e com saúde ao lado da família, em Vicente Pires, no Distrito Federal.
Para o pai, Thiago Catunda, a vida de Clara é “um milagre”. Antes da cirurgia, a menina sofreu uma parada cardíaca, o que levou os médicos a orientarem a família a se despedir da bebê.
“A chefe da UTI me chamou e falou: ‘Provavelmente, ela não aguenta. Pediram para chamar os familiares para se despedir. Entrou um por um, e intubaram ela. Nesse período, eu não saí em nenhum momento do lado dela. E ela resistiu, é uma guerreira”, diz Thiago.
A menina tinha apenas 2 meses quando o pai descobriu o problema no coração da filha. “A musculatura do lado esquerdo não tinha se formado direito. Então, não tinha força para bombear, só bombeava 30%. Direto do exame, subiu para a UTI do hospital para ser medicada e internada”, conta.
Espera
Foi uma luta até que a família de Clara conseguisse a transferência do Hospital Regional de Taguatinga para o Instituto de Cardiologia e Transplante do DF, necessária para o tratamento. “Entramos na Justiça. Tínhamos quatro liminares, nenhuma cumprida”, conta o pai.
Depois de três semanas, a família conseguiu a transferência, mas ainda faltava o mais difícil: um coração. “Transplante para uma bebêzinha, na idade em que ela estava, era praticamente impossível”, afirma.
A avó lembra que rezava pelo transplante, mas não sabia como pedir. “Como eu posso pedir para tirar a vida de um bebê para poder dar a vida para o meu? Como é que a gente faz isso? Mas eu dizia: ‘Deus, não sei como pedir, mas a gente quer”, conta Walderlene Ramalho.
Cirurgia
No dia 22 de julho deste ano, Clara recebeu um novo coração. Segundo o pai, ela entrou e saiu acordada do centro cirúrgico: “Ela sempre foi muito forte”. E o cardiologista que comandou a equipe de cirurgia concorda.
“Ela estava em um estado muito grave. Aguentou a cirurgia, o pós-operatório, conseguiu ter alta hospitalar em boas condições. A gente acredita que ela superou todas as dificuldades possíveis que pudessem aparecer na frente. Acreditamos que ela tenha condições de ter uma vida normal”, explica o médico Fernando Antibas Atik.
Clara é uma das bebês mais novas a passar por um transplante de coração em todo o país. Aqui no DF, o Instituto de Cardiologia já fez 330 cirurgias do tipo, e só três pacientes tinham menos de 1 ano de idade. Um número pequeno, principalmente, pela dificuldade em conseguir um doador.
“A maioria dos doadores nessa faixa etária acaba falecendo antes de conseguir doar o coração, porque a maior parte desses doadores é por morte acidental, quer seja por afogamento ou trauma”, diz o cardiologista.
Segundo Atik, quando a criança sofre esse tipo de morte, o coração acaba não funcionando em perfeitas condições para que o transplante aconteça. No caso da Clara, segue vivo no peito da bebê o coração de um menino de 2 anos, que morreu no Mato Grosso do Sul.
“Vale a pena usar essa experiência da Clara para a gente estimular outras famílias que tenham a possibilidade de doar órgãos, de fazer esse ato de amor ao próximo em um momento muito difícil, de perda de um familiar”, disse o médico Fernando Antibas Atik.
*G1-DF