As contas externas do Brasil foram deficitárias em US$ 8,8 bilhões em fevereiro — maior saldo negativo para o mês desde 2014, segundo o Banco Central (BC). O resultado quase dobrou em relação a fevereiro de 2024, quando teve déficit de US$ 3,9 bilhões.
O desempenho foi influenciado pela queda do superávit comercial.
Os dados fazem parte do relatório de estatísticas do setor externo, publicado nesta quarta-feira (26/3) pelo BC. O documento compila os valores dessas movimentações financeiras mês a mês.
Para o cálculo mensal das transações correntes, o Banco Central considera o saldo da balança comercial (diferença entre os valores das importações e das exportações), os serviços e a movimentação de renda para outros países.
Entenda as contas externas
As contas externas (ou transações correntes) são um dos principais indicadores sobre o setor externo do Brasil.
O resultado das transações correntes é formado pelo balanço de pagamentos da compra e venda de mercadorias, balança de serviços e as transferências unilaterais.
Um saldo negativo (déficit) nas contas externas significa que o país enviou mais dinheiro para o exterior do que recebeu. Enquanto um saldo positivo (superávit) indica que o Brasil recebeu mais dinheiro do que transferiu para outros países.
Em 2024, o saldo negativo somou quase US$ 56 bilhões — o equivalente a 2,55% do Produto Interno Bruto (PIB).
Nos últimos 12 meses, as contas externas acumulam déficit de US$ 70,2 bilhões, bem acima dos US$ 23,9 bilhões registrados em fevereiro de 2024. Esse desempenho indica que o Brasil gasta mais do que recebe do exterior.
Contas externas em fevereiro
Em fevereiro, a balança comercial de bens (saldo entre importações e exportações) teve déficit de US$ 979 milhões. No mesmo mês do ano passado, o país registrou superávit de US$ 4,4 bilhões. Segundo o BC:
As exportações somaram US$ 23,2 bilhões; e
As importações totalizaram US$ 24,1 bilhões.
O motivo dessa piora foi que as exportações caíram 1,8% e as importações subiram 25,7% em relação a fevereiro de 2024. O desempenho da compra de bens foi influenciado pela importação de uma plataforma de petróleo no valor de US$2,7 bilhões.
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O Brasil também teve déficit em serviços, que totalizou saldo negativo de US$ 3,9 bilhões — o que representa um aumento de US$ 40 milhões frente ao déficit computado em fevereiro do ano passado.
Os destaques vão para as altas das despesas líquidas de:
Serviços de transportes (+35,6%), que somaram US$ 1,2 bilhão;
Serviços de aluguel de equipamentos (+20,4%), que custaram US$ 1 bilhão; e
Serviços de telecomunicação, computação e informações (+42,2%), que foram de US$ 698 milhões.
Além disso, os brasileiros gastaram US$ 754 milhões com viagens internacionais — uma alta de 9,1% nos gastos.
Investimentos e reserva internacional
Do lado dos ganhos, o BC informou que houve mais entrada de investimentos estrangeiros. Os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 9,3 bilhões em fevereiro, acima dos US$ 5,3 bilhões computados no mesmo mês do ano passado.
Nos últimos 12 meses até fevereiro, o IDP acumula US$ 72,5 bilhões em investimentos (3,38% do PIB), contra US$ 68,5 bilhões (3,18% do PIB) em janeiro, e US$ 64,6 bilhões (2,89% do PIB) em relação a fevereiro de 2024.
O Banco Central informou que o saldo das reservas internacionais do país cresceu em fevereiro frente a janeiro. O Brasil tem estoque de US$ 332,5 bilhões para se proteger contra crises do ambiente externo.