São Paulo — O cirurgião plástico Renato Tatagiba foi condenado a 2 anos e 4 meses de prisão, em regime aberto, após uma paciente perder parcialmente a visão. A decisão da juíza Juliana Trajano de Freitas Barão, proferida na última sexta-feira (17/1), é de primeira instância. Portanto, cabe recurso.
Além do período de detenção, Tatagiba foi condenado a pagar 50 salários-mínimos e indenizar a vítima em R$ 300 mil.
O que aconteceu
A paciente é a iraniana-brasileira Shirian Saraeian, que realizou uma abdominoplastia e uma lipoescultura com o cirurgião plástico no dia 30 de abril de 2021 em São Paulo. Em 21 de maio, três semanas depois, ela recebeu o diagnóstico de cegueira.
De acordo com a ação cível movida pela mulher contra o médico, processo que ainda está em fase de perícia, Shirian conheceu e contratou Tatagiba pela internet. No Instagram, o médico acumula quase 170 mil seguidores e diz ter realizado mais de 25 mil cirurgias.
Antes dos procedimentos, ela passou por exames médicos que indicaram boa saúde, e a ausência de qualquer comorbidade.
Logo depois de acordar, após realizar as cirurgias, no Hospital Saint Peter, Shirian apresentou dificuldade para respirar e tontura. Dois dias depois, perdeu subitamente a visão do olho esquerdo. A condição também começou a afetar o olho direito.
Segundo a defesa da paciente, ela tentou contatar o médico diversas vezes após os primeiros sintomas, mas ele teria demorado para responder. O profissional negou a acusação durante o processo.
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Em uma das tentativas, uma assessora do cirurgião teria respondido a Shirian que “a cirurgia não tem absolutamente nada a ver com os olhos”, porque “você operou só o corpo, não tem nada a ver os olhos”.
A mulher foi até um hospital, no início de maio de 2021, onde lhe foi indicado apenas o uso de um colírio. Com a visão cada vez mais afetada, e se sentindo bastante fraca, Shirian passou por um neuro-oftalmologista, que suspeitou de anemia aguda pós-operatória.
Exames médicos mostraram que a paciente perdeu cerca de 60% de sangue durante a cirurgia. Ela ficou internada no Hospital Edmundo Vasconcelos, já com a confirmação de que o seu olho esquerdo estava completamente cego e o olho direito com perda importante da visão.
De acordo com os autos, Shirian sofreu perda de 100% do olho esquerdo e cerca de 2/3 do olho direito.
Justiça considerou médico culpado
Conforme o advogado da mulher, Rodrigo Martini, os dois laudos apresentados à Justiça pela defesa da paciente, formulados por um médico oftalmologista e outro cirurgião plástico, apontam relação entre a conduta de Tatagiba e a perda da visão de Shirian.
A juíza Juliana Trajano concordou, e apontou que o especialista se furtou da responsabilidade dele no pós-operatório.
A defesa de Tatagiba considerou a decisão “algo inconcebível diante de todas as provas constituídas nos autos”.
“Uma decisão intelectualmente de tecnicamente sofrível. Já estamos providenciando o recurso cabível e temos a certeza, tendo em vista os fatos e provas já consignadas nos autos, de que a decisão será revertida no tribunal”, afirmou o advogado Celso Papaleo.
Outros processos
Segundo os autos, Tatagiba enfrenta dezenas de processos em outros estados, como Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A maioria deles corre no Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES).
Rodrigo Martini, advogado de Shirian, afirmou ao Metrópoles que, em uma das ações do ES, o médico foi condenado em segunda instância, também em prisão em regime aberto, acusado de lesão corporal após suposto erro médico. O processo em questão ainda cabe recurso.
No caso envolvendo Shirian, além da ação penal que condenou o especialista a mais de dois anos de prisão, ele é alvo de uma ação cível, já citada acima. A defesa da mulher também acionou o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), que instaurou um processo administrativo para apurar a conduta do médico.
Ainda em São Paulo, Tatagiba é alvo de pelo menos mais duas ações cíveis, ambas por erros médicos. As duas estão em andamento – uma delas, inclusive, segue na fase de produção de provas.