Maciel Yuri Araújo Ribeiro, 29 anos, estava na frente de casa com filho e sobrinhos quando ouviu gritos e disparos de arma de fogo. Homens armados, que posteriormente se identificaram como policiais civis, correram até o imóvel e apontaram as armas contra os moradores, gerando confusão e medo.
Segundo o relato do jovem, os homens chegaram a invadir a residência, arrombando o portão e efetuando disparos, além de revirarem os móveis sem apresentar documentos ou mandados. Após a abordagem, classificada como violenta pelo morador, os policiais só informaram que foi um engano. O caso aconteceu no fim da tarde da última terça-feira (14/1) próximo ao condomínio Quintas do Amanhecer, em Planaltina, e teria reunido cerca de 15 agentes da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
Os policiais chegaram atirando e gritando, o que levou o homem a crer que se tratava de um assalto. Por isso, Maciel empurrou as crianças para dentro de casa, mandando-as se esconderem. Sua mãe chegou ao portão, e ele a mandou voltar para dentro também, pensando que eram bandidos. No entnato, ao tentar fechar a porta, o portão de sua casa foi arrombado.
“Minha sobrinha gritou que era tiro. Eu joguei os meninos todos para dentro, né? Bati o portão e fiquei na área pra tentar enxergar o que era. Foi quando um homem, que depois se identifica como policial, porque chegou sem identificação nenhuma. Vai pra grade, aponta a arma para mim, para o meu filho e para as crianças que estavam correndo. E diz: “Sai, se não você vai morrer’. […] A todo momento, eu pensei que fossem bandidos, porque eles estavam agindo como tal”, relata Maciel.
Imagens obtidas pelo Metrópoles mostram o momento em que os homens chegam a casa. Além dos gritos, é possível ouvir sons que são semelhantes a disparos de arma de fogo.
Assista:
Após arrombarem o portão, os policiais entram na casa gritando e xingando. Eles ordenaram que todos deitassem no chão e que o jovem, que é estudante de pedagogia, tirasse a camisa. A mãe de Maciel, em desespero, também tirou a blusa, ficando apenas de sutiã enquanto uma arma era apontada para ela. Maciel continuou a gritar que havia crianças na casa e que eles não tinham o direito de agir daquela forma.
“Minha mãe tirou, ficou desesperada, tirou a blusa, ficou de sutiã. Na frente deles, apontando a arma para a gente. E eu o tempo todo gritando que tinha câmera na casa, que a minha casa estava cheia de crianças, que eles não tinham o direito de fazer aquilo”, relembra.
Após vasculhar os cômodos do lugar, os policiais saíram da casa e entraram na casa do irmão do estudante, que fica ao lado e estava vazia naquele momento. De acordo com Maciel, os agentes arrombaram as portas e danificaram os móveis das duas residências. Ele, então, pegou seu celular e começou a filmar, questionando os policiais, que não teriam respondido às perguntas.
Veja:
Um dos principais problemas relatado pela vítima ocorre porque, durante toda a ação, os policiais não se identificaram corretamente, não apresentaram nenhum mandado judicial, não pediram documentos de ninguém e não informaram o motivo da ação. Maciel descobriu que eram policiais apenas quando um deles, já dentro de sua casa, vestia um colete da Polícia Civil do DF (PCDF) e outro tinha um distintivo. Posteriormente, após a confusão, eles afirmaram ser da 16ª DP (Planaltina).
Outro ponto que gerou indignação no morador se deu quando um policial foi questionado sobre o porquê da perseguição: “Foi o mesmo policial que tá de verde, que disse que eu ia morrer. Falei: ‘Você apontou o revólver para mim, apontou o revólver para o meu filho’. Ele disse para mim que estava correndo atrás de alguém. Ele falou assim: ‘Eu tava correndo atrás de alguém, você era parecido com ele, era preto’. Porém, ele [o policial] também é preto, eu até questiono que ele também era”.
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Após a ação na casa, os moradores viram mais policiais na rua de baixo, que, inclusive, estariam abordando crianças. Ao saírem, um policial disse para Maciel que tudo havia sido um engano: “A única coisa que vocês precisam saber é que foi um engano […] Um dos policiais até debochou da gente, falei que ia processar eles porque não tinham o direito de fazer aquilo, e ele saiu debochando, rindo pra mim”.
“Eu preciso saber qual era a operação, preciso dessa retratação deles, preciso do ressarcimento dos danos materiais, porque os portões foram quebrados. A cama do meu irmão e as portas da casa foram quebradas. Danos morais também porque eles fizeram minha mãe ficar de sutiã com cinco pistolas apontando para ela”, afirma.
Defesa do morador
Os advogados de Maciel Yuri Araújo Ribeiro também se manifestaram sobre o ocorrido. A defesa acredita que houve tanto um crime quanto condutas irregulares por parte dos agentes da lei, incluindo abuso de autoridade, uso de força desnecessária e invasão arbitrária de domicílios sem ordem judicial ou situação de flagrante.
“Essas ações ultrapassaram todos os limites do exercício legítimo da função pública, expondo essas vítimas ao medo, constrangimento e humilhação. A justificativa final que todos deram para dizer que foi um mal-entendido reforça a negligência e a ausência de planejamento para essa operação”, aponta a advogada Patrícia Guimarães.
Roberto Migliavacca, que também faz parte da defesa, informa que já solicitou a apuração dos fatos junto à corregedoria da PCDF, demandando a abertura de uma investigação administrativa contra os agentes envolvidos. “Será preparada uma ação contra o Estado pleiteando a indenização por danos morais e materiais, tendo em vista o trauma psicológico, o constrangimento e os possíveis prejuízos financeiros sofridos pela família”, garante.
Por fim, Maciel Yuri indica que viveu uma situação horrível que gerou medo e constrangimento para toda a família. “A gente fica com medo, a gente fica com medo de retaliação. Porém, eu não vou me esconder nunca porque quem deve viver nas sombras são os marginais. Eu não sou marginal, eu não devo nada para a polícia. Quem tem o dever de me proteger são eles, não vou me esconder jamais”, finaliza o morador.
Manifestação da PCDF
O Metrópoles solicitou um posicionamento da PCDF para que os principais pontos do caso pudessem ser esclarecidos pela corporação. Não houve resposta até a última atualização desta reportagem. O espaço segue aberto e será atualizado com eventuais informações da PCDF.