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Como mulher que recebia bolsa-família virou “dona” de fábrica em Goiás

Quando entrou formalmente para o quadro de sócios da Piloto, uma fábrica de embalagens que presta serviços até para grandes supermercadistas, Paula Mendes de Carvalho tinha 28 anos de idade, era beneficiária do programa Bolsa-Família e morava na cidade de Caiapônia, que hoje tem 16 mil habitantes, em Goiás, a 335 km da capital do do Estado.

Apesar de ser hoje a única sócia de uma empresa com giro anual de mais de R$ 10 milhões, nunca é vista na Piloto. Ela frequenta, mesmo, sua estação de trabalho em uma empresa goiânia de cultivo de soja e milho, a Seed. Lá, começou como analista em 2018 e foi crescendo até chegar a coordenadora de faturamento.

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Empresa em nome de funcionária de pesqueiro tem até avião

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Funcionário de fábrica é sócio de fazenda milionária

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Mulher que já recebeu Bolsa Família virou sócia de fábrica

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“A um mês de completar 5 anos nesta empresa que tanto amo, sou grata por todo aprendizado e crescimento profissional e pessoal concedida a mim”, disse, quando foi promovida de supervisora para coordenadora de sua área.

Em seu linkedin, rede social profissional, expõe seu dia-a-dia na empresa, sem qualquer menção à fábrica de embalagens que está formalmente em seu nome. Procurada pelo Metrópoles, ela não explicou como toca a vida dupla de funcionária assalariada e dona de uma empresa que tinha ativos de R$ 12 milhões somente no ano em que foi admitida por seu atual empregador.

O que pode explicar a condição de Paula é uma enxurrada de processos judiciais e investigações criminais que apontam para um laranjal do empresário goiano Guimar Alves da Silva, que se apresenta como dono da Piloto, apesar de não assinar sequer um documento como sócio formal da empresa.

Em investigações sobre sonegação fiscal e até mesmo trabalho escravo, Guimar foi pego colocando empresas e fazendas em nome de parentes e funcionários. Ele foi condenado por sonegação fiscal na Justiça Federal – ainda cabe recurso – e teve que admitir ser o real dono de uma fazenda em nome de um testa de ferro para fazer um acordo de não persecução penal no caso do trabalho escravo.

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Guimar aparece como manda-chuva de empresa que não está em seu nome; ele não tem nada em seu CPF

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Empregados resgatados em fazenda de Guimar bebiam a água do cavalo

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Empresário Guimar Alves da Silva ostenta voos de helicoptero e mora em condomínio das estrelas, em Goiás

Entre empresários e políticos de Goiás, Guimar têm boas relações. Aparece nas redes sociais em fotos com senador, deputados e até secretário de Estado. Na condição de dono da Piloto, que está em nome de Paula, ele é citado em uma coluna social do jornal da Federação das Indústrias de Goiás em um passeio que, segundo a publicação, “reuniu amigos em acampamento ribeirinho de alto padrão”.

“Ele alugou o Rabo de Arraia e montou estrutura de luxo para receber sua turma, que contou com luxos como massagista na beira do rio, luau com direito a sanfoneiros e duplas sertanejas. Opção de passeio de helicóptero na região e brinquedoteca eram outros serviços disponíveis no rancho”, disse a publicação, em 2011.

Como mostrou o Metrópoles, além das investigações na esfera criminal, Guimar é alvo de uma série de cobranças de grandes empresas e até do BNDES. Essas empresas e a instituição financeira – que acabou vendendo o crédito da dívida de Guimar para um fundo de investimentos – acusaram a fraude para driblar o pagamento de dívidas.

Ele responde a mais de uma dezena de processos por dívidas que chegam a R$ 87 milhões. Em nome dele, só há empresas antigas com registros cancelados. A Justiça, quando procura bens e contas bancárias para satisfazer dívidas, não encontra nada. Em um desses processos, movido pela empresa Polo, do ramo de material plástico, foi exposto pela credora o “alaranjamento” da Piloto com o uso de Paula.

 

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